4 de fevereiro de 2017

40 dias para os 40

De hoje a 40 dias completo 40 anos de idade e ao contrário do que se possa pensar até estou deslumbrada  com a ideia.

Não sinto que eu seja um número, não sinto que a idade dite aquilo que sou, aquilo que penso ou aquilo que faço.

Mas há sempre "pequenos nadas" que me alertam para o inevitável envelhecimento do corpo. E quando esses "pequenos nadas" vêm de uma criança de 8 anos que me ama incondicionalmente (até chegar à adolescência, claro)... então eu tenho mesmo de pensar no peso da idade.

Hoje não me "arranjei" como habitualmente, ou seja, não me preocupei muito com o cabelo, maquilhagem e roupa.

Comentário da filha enquanto jantávamos no AlmadaForum:
- Com o cabelo assim pareces... (pausa demorada) ... pareces mais velha...
Sorri para a miúda  (aposto que notou que era um sorriso amarelo) e ela rematou com uns olhitos meigos:
- Desculpa mas é verdade!



Tinha mesmo de ser este???

Ah e tal uma pessoa não caminha para nova...
Ah e tal as más posturas habituais ao longo dos anos começaram a fazer efeitos...
Ah e tal o meu osteopata diz que eu estou toda "empenada"...

Resolvi comprar algo que sempre associei à terceira idade... Resolvi comprar um saco de água quente para atenuar as dores nas costas.

Não, não é para me aquecer nas noites frias de inverno que era para isso que os "velhotes" da minha infância tinham os tais sacos de borracha e cheiro a pneu...

Enfim, lá fomos em família até à "loja da vaca" onde já tinha visto uns sacos muito giros. Estes sacos de água quente têm umas capas muito coloridas, fofinhas e bonitas. Estava indecisa entre duas que tinham daquelas frases fixes que no meu íntimo afastavam e punham mesmo de lado a ideia pré-concebida que tinha sobre estes sacos.

Acabei por pedir ajuda aos meus 3 acompanhantes... e eles ganharam.

Acabei por trazer o saco com a capa mais estranha e menos gira que lá havia! Tenho uma família com um sentido de humor muito... sei lá... requintado!

Vou só ali aquecer um pouco de água e acalmar as dores da idade!

1 de fevereiro de 2017

Mais uma mensagem XIX

Sofia releu a mensagem em voz alta como que a querer ter a certeza de que estava a ler bem...
 "Minha querida, voltei para Nazaré. Tudo o que se passou connosco foi espetacular, mas eu tinha de voltar para a minha namorada. Espero que compreendas. Um beijo. Filipe" 
Voltou para Nazaré??? Assim sem avisar? Ainda ontem... Carambas foi tão especial ontem na praia...- pensava Sofia. Pelo menos para ela tinha sido um momento muito especial pejado de paixão e cumplicidade.
Voltou para a cama cabisbaixa, atirando com raiva o seu Nokia para a mesa de cabeceira! 
Sentia-se usada e perdida. Sentia-se atraiçoada e enganada. Sentia-se roubada e traída. 
Ele tinha-lhe proporcionado uma noite tão especial, ela tinha adorado todos os momentos passados juntos,  tinha até planeado na sua cabeça futuros encontros. Pensava que também ela tivesse sido especial para ele... Caraças... ele era um valente cabrão! 
Saía assim tão repentinamente da sua vida como tinha entrado... mas o estrago que tinha deixado à sua passagem era devastador. Sofia não se sentia preparada para limpar esses destroços.
Recordou-se que tinha sido avisada pela amiga Carlota no dia em que o conheceu "ele tinha namorada e fama de conquistar muitos corações para depois desfazê-los em pedaços". Sim, na altura ela não lhe deu a devida importância mas agora percebia que fora infantil e descuidada.  
Atirara-se de cabeça num precipício onde não vislumbrava o fim... bateu no fundo e machucou-se, mais rápido do que planeara. 
"Que estúpida que és Sofia! Parva, mesmo... estavas a apaixonar-te por ele?... Não devias sentir mais nada a não ser atração física. Que burra..."- Lágrimas encetaram a descida vertiginosa pelas faces rosadas de Sofia. Eram lágrimas de raiva... Raiva que sentia por se ter deixado envolver daquela forma...Apaixonou-se por alguém que não merecia a sua paixão. O Filipe não merecia nenhuma daquelas lágrimas, não merecia qualquer sentimento que pudesse brotar do seu coração magoado e amargurado. 
Quantas mais miúdas estariam a chorar pelo surfista louro? Quantas miúdas teria ele conquistado para uma simples noite de sexo? Quantas mais teriam caído nos seus braços enganadas pelo seu sorriso lindo e olhos azuis?
As perguntas não paravam de surgir na mente angustiada de Sofia e não conseguia desculpá-lo. Não conseguia compreender como é que ele podia dormir de consciência tranquila... Afinal andava a trair a sua namorada e voltava para ela como se nada se tivesse passado.
Sofia resolveu reagir... não podia ficar a chorar por ele. 
- Ahhhhhhh - um grito de raiva acabou por sair da sua boca e em menos de trinta segundos já a sua irmã Rita assomava à porta do quarto.
-Então pá? Estás-te a passar? - perguntou com os olhos tão arregalados que quase lhe saltavam das órbitas ao ver o estado em que Sofia se encontrava -  Que se passa mana? - Questionou com preocupação.
- Não se passa nada - respondeu levantando-se da cama, com uma fúria no olhar e atirando a almofada tentado acertar na irmã - Sai daqui! Deixa-me em paz!

Sofia resolveu tentar esquecer o sucedido. Ía esquecer aquele quente mês de agosto Não podia deixar-se tomar por um sentimento de tristeza e raiva provocados por algo que estava condenado ao fracasso desde o início. Refletiu bastante nos dias que se seguiram àquela mensagem e resolveu tentar esquecer Filipe. Prometeu a si mesma que não voltaria a contactá-lo, apagou o seu número de telemóvel e nem sequer voltou à praia da Riviera. Estava decidida a reencontrar o sossego na sua vida de solteira, livre, autónoma e independente. 
As férias acabaram e voltou ao seu local de trabalho que tanto gostava, numa pequena livraria na baixa lisboeta, onde se podia entreter, distrair e sonhar no meio de livros, autores, clientes e visitantes. Sofia voltava a sorrir e a acreditar que aquele agosto tinha sido apenas um episódio menos bom da sua vida, uma aprendizagem e uma oportunidade para crescer.

Entretanto, na Nazaré, depois de uma hora no mar com a sua prancha, a tentar dominar as ondas rebeldes, traiçoeiras e enormes da praia do Norte, senta-se a observar o mar e um maravilhoso pôr-do-sol. Estava sozinho e os seus pensamentos voam até uma determinada noite de agosto, numa outra praia. Parecia visualizar tudo ao mais ínfimo pormenor, mas o que mais o fazia tremer por dentro era o sorriso sensual e maroto da morena Sofia que teimava em não lhe sair do pensamento.