Paula sabia que Sofia andava enrolada com um rapaz comprometido. Paula não condenava Sofia e até a instigava a tentar mais do que apenas umas noites com ele. Poderiam vir a ser um casal...
Sofia entrou no café e viu que a sua amiga Paula já tinha chegado e estava sentada na mesa do costume, junto à janela para se divertirem a observar os transeuntes atarefados que por ali passavam.
- Oi miúda! Estava a ver que nunca mais chegavas. - disse Paula, levantando-se para abraçar e cumprimentar Sofia.
- Cala-te, hoje é um dia para esquecer! Acordei tarde e pronto, a partir daí já sabes, foi uma correria para chegar à loja. O trânsito infernal da ponte... buhhhh... Fiquei com trabalho atrasado de ontem, umas encomendas que chegaram ao fim do dia... hoje passei a manhã a tratar do assunto. Ainda nem bebi café!
- Que mal... Mas, olha deixa lá que tenho uma novidade para te contar! Nem vais acreditar... - Os olhos de Paula brilharam e o sorriso aberto deixou antever que algo de muito bom se passava na vida da sua amiga.
- Ui, ui.... conta, conta! Quero saber o que te deixou assim tão feliz!
- Sim, conto já, mas vamos pedir primeiro... O que vamos comer? Uma tosta?- Paula fez sinal ao empregado que se aproximou com um bloquinho de folhas brancas e um pequeno lápis de carvão que já merecia um encontro imediato com um afia-lápis. Pediram tostas mistas, sumo de laranja e enquanto aguardavam, Paula confidenciou o que a havia deixado felicíssima.
- Vou trabalhar para Nova Iorque!!!! I'm going to the big apple!!! Can you believe it? - Anunciou Paula com um sorriso de orelha a orelha!
- What? A sério?? Mas, mas... como? O que vais fazer? Tens lá emprego? - Sofia estava incrédula, mas feliz pela sua amiga.
- Sim! Há uns tempos fiz uns castings para uns gajos americanos. Se queres que te diga, já nem me lembrava... Telefonaram-me há uns dias. Não te vou contar pormenores, "details" mas vou assinar contrato e fico por lá uns meses. Estou tão feliz amiga! O meu sonho está prestes a realizar-se! E a Zé vai comigo, claro!
- Paula!!! Fogooo, estou tão feliz por ti, por vocês... mas só me apetece dizer-te "Também quero ir" - abraçaram-se felizes. A hora de almoço foi passada a conversar sobre o assunto do momento e até marcaram um jantar de despedida para a sexta-feira seguinte. Despediram-se felizes e voltaram aos seus empregos.
Sofia continuou muito atarefada durante o resto do dia. Aproximava-se a altura de Natal e havia novos livros para colocar nas prateleiras, mais clientes a procurar obras para oferecer e Sofia nem deu pelo tempo passar. Eram quase 19horas quando entrou um cliente que Sofia não esperava atender. Filipe acabava de aparecer à sua frente com um livro acabado de tirar, aleatoriamente ou não, da prateleira "The Girl who loved Tom Gordon" de Stephen King.
- Boa noite, menina! - disse Filipe, fingindo um ar sério - Gostaria de saber se me aconselha este livro...
- Boa noite, caro senhor! - Sofia entrou na brincadeira - Devo dizer-lhe que Stephen King é apenas o melhor contador de histórias fantásticas, de sempre. Eu sou suspeita pois adoro todos os seus livros, no entanto devo dizer-lhe que esse não é dos melhores, mas creio que deverá gostar. Presumo que saiba ler inglês... - piscou-lhe o olho e sorriu.
- Presume bem, cara menina! Vou levar o livro. - Filipe entrega o livro a Sofia e os seus olhares mantêm-se presos e Sofia pergunta se ele vai levar mais alguma coisa.
- Sim, posso levá-la também comigo? - fez o seu melhor ar de "engatatão" e Sofia desatou a rir.
- Hahaha... Vou ver o que posso fazer... mas daqui a meia hora estarei de saída... se quiser esperar... - pisca-lhe o olho enquanto lhe entrega o talão e o saco com o livro. Demora-se um pouco a observar este cliente. Estava tão bonito! Cabelo bem penteado e preso num rabo de cavalo. Roupa escura, um sobretudo quente e um cachecol cinzento claro que parecia abrilhantar o olhar azul e profundo do cliente-surfista, com ar de intelectual australiano.
- Eu posso esperar, menina, sei que vai valer a pena.
Filipe dirige-se à porta de saída, e antes da sair vira-se para Sofia, dirigindo-lhe um olhar penetrante:
- Boa noite menina! Obrigada pelo atendimento simpático. Até à próxima!
- Até já... senhor! - Disse Sofia, piscando-lhe o olho e virando-se com rapidez para a cliente seguinte que presenciara o diálogo mas nem prestara atenção nenhuma à conversa dos dois amantes.
Meia hora depois Sofia fechava e trancava a porta da livraria quando sente alguém a encostar-se, por trás. Poderia ser um assalto, poderia ser um ladrão... e no fundo até era mesmo. Filipe preparava-se para lhe roubar o chão, para lhe tirar o fôlego e deixá-la ofegante.
Era o início de uma grande noite, vivida a dois. Tudo o resto seria cenário e adereços de um palco onde só cabem estes dois atores, onde o improviso é mais importante do que os textos bem decorados e os movimentos estudados e onde no final da atuação não se ouvem aplausos... apenas o silêncio dos olhares de cumplicidade e de agradecimento pelo momento vivido!
Estão aqui todos os capítulos:
Mais uma mensagem
Mais uma mensagem II
Mais uma mensagem III
Mais uma mensagem IV
Mais uma mensagem V
Mais uma mensagem VI
Mais uma mensagem VII
Mais uma mensagem VIII
Mais uma mensagem IX
Mais uma mensagem X
Mais uma mensagem XI
Mais uma mensagem XII
Mais uma mensagem XIII
Mais uma mensagem XIV
Mais uma mensagem XV
Mais uma mensagem XVI
Mais uma mensagem XVII
Mais uma mensagem XVIII
Mais uma mensagem XIX
Mais uma mensagem XX
Mais uma mensagem II
Mais uma mensagem III
Mais uma mensagem IV
Mais uma mensagem V
Mais uma mensagem VI
Mais uma mensagem VII
Mais uma mensagem VIII
Mais uma mensagem IX
Mais uma mensagem X
Mais uma mensagem XI
Mais uma mensagem XII
Mais uma mensagem XIII
Mais uma mensagem XIV
Mais uma mensagem XV
Mais uma mensagem XVI
Mais uma mensagem XVII
Mais uma mensagem XVIII
Mais uma mensagem XIX
Mais uma mensagem XX