14 de novembro de 2016

Mais uma mensagem II

Não podia ir para casa... apesar de todos os planos para aquela sexta-feira à noite Sofia não podia ir já para casa. Aquela mensagem tinha-a deixado perturbada, preocupada e com receio do que aí vinha. Saiu da estação de Corroios e dirigiu-se até ao parque de estacionamento onde normalmente deixava estacionado o seu pequeno Fiat 500 branco. Desceu as escadas rapidamente tal como muitos outros companheiros de viagem que queriam chegar rapidamente às suas casas.
Estava uma noite fria e húmida, considerada normal para a altura do ano. Dezembro estava a começar a parecer um inverno rigoroso e os dias soalheiros e amenos que caracterizaram o mês de novembro já começavam a deixar saudades.
Apertou os três botões do seu casaco comprido e preto, ajeitou o cachecol da mesma cor e encolheu-se como que a querer tornar-se invisível, algo que fazia há bastantes anos. Quem lhe dera ser invisível.  Tinha já enxugado as lágrimas e agora o choque inicial dava lugar a um sentimento de raiva e de impotência.
Ia telefonar à sua irmã... sim, ela está sempre disponível e o seu sentido de humor iria ajudar a Sofia a esquecer aquela mensagem. Mas não lhe podia contar nada... ela não iria entender.
Entrou no carro, fechou a porta e trancou-o... Estava escuro e Sofia não se sentia segura naquele local, muito menos agora... Baixou o volume do rádio e pegou na mala para procurar o telemóvel. Ia telefonar à Rita a convidá-la para jantar.  Precisava de companhia e de se distrair e a sua irmã 5 anos mais nova era agora a sua melhor escolha.
Antes de desbloquear o telemóvel... fechou os olhos, inspirou e sussurrou com a voz trémula: "que não haja nenhuma mensagem... por favor... que não haja nenhuma mensagem".
Não havia nenhum ícone para mensagem nova.... Suspirou de alívio!
Rita era um dos contactos mais utilizados, para além de irmãs eram muito amigas e confidentes. No entanto, desta vez não atendeu a chamada...  Desilusão. Sofia tentou mais uma vez e nada...
"Merda, Rita.... atende...!"
O nervosismo começou a apoderar-se de Sofia e sem saber o que fazer a seguir pensou na mensagem... fechou os olhos e só conseguiu visualizar aquelas palavras desconcertantes, conseguiu imaginar o sorriso irónico do remetente da mesma enquanto a escrevia... Só não conseguia perceber porquê... qual a razão daquela mensagem, agora, quase dez anos depois da última mensagem.
"Sofia, não sejas parva... tu és forte e estás em segurança. Vai para casa e esquece o assunto... " - disse para si mesma em voz alta, como se estivesse a dar conselhos a uma amiga.
"Sim, é isso mesmo... eu sou forte! Não é uma merda de uma mensagem que me vai deitar abaixo"...
Inspirou e expirou profundamente 3 vezes, como fazia sempre que se sentia cansada ou tensa, meteu a primeira e arrancou conduzindo rumo a casa sem imaginar que aquela não ia ser uma viagem normal...

3 comentários:

  1. Hoje senti-me ainda mais incluída na leitura. Pq será?!
    Mas eu atenderia...
    Continuo a gostar!
    (Já ansiosa por ler mais.)

    ResponderEliminar
  2. E a mensagem? Eu quero saber o que vem na mensagem... :)

    ResponderEliminar