29 de novembro de 2016

Mais uma mensagem V

- Lembras-te dele mana? - voltou a perguntar visto que a sua irmã não respondia.
- Ai Rita, não estou a ver quem é esse Filipe... - mentiu Sofia com a voz a tremer do nervosismo crescente que sentia dentro de si. Naquele momento sentiu o  mundo a ruir à sua volta, o coração a acelerar e a respiração a tornar-se ofegante como quando se corre um pouco para apanhar o autocarro. Sofia não queria acreditar que o Filipe estava a jantar com a sua irmã. Não percebia onde é que ele queria chegar...
- Sofia, vê lá se te recordas ...  vamos fazer um brainstorm com as palavras que te vou dizer. Estás pronta?
Sofia queria dizer a Rita que não queria continuar aquela conversa, queria dizer para se afastar dele, para fugir enquanto pudesse mas só conseguiu articular um quase inaudível "Estou pronta".
- Olha... ele está aqui à minha frente e já se fartou de rir com a nossa conversa... ele lembra-se de ti! Então vê lá se as seguintes palavras não te fazem lembrar alguém: férias, surf, loiro... girooo! - Se não fosse a situação que era, Sofia teria achado graça ao jogo da Rita mas queria acabar com aquilo.
- Sim, sim já me lembro dele. O Filipe que conhecemos na Costa da Caparica há muitos anos. - respondeu Sofia emprestando à sua voz uma falsa surpresa.
- Bingooo... acertaste! Ele diz para vires cá ter e jantar connosco. Anda mana...
Sofia tinha a cabeça num turbilhão...
O Filipe estava ao fundo da sua rua a jantar com a sua irmã mais nova mas aparentemente, continuava a manter o segredo que partilhavam. Não parecia que tivesse contado à Rita tudo o que se passara entre eles. Pelo menos Sofia nunca tinha partilhado nada com ninguém, tinham feito uma jura... nunca iriam dizer nada a ninguém.
- Querida, já jantei e para além disso estou cansada e ja vesti o pijama. Olha mana... tem cuidado. Estão sozinhos? - perguntou Sofia receosa do que pudesse acontecer a seguir.
- Não, ele está também com os filhos. Vieram a Lisboa e encontrámo-nos nas Amoreiras. Acreditas  que ele é que me reconheceu? Vá, não te preocupes que depois levam-me a casa e eu mando-te mensagem quando chegar... Ele está a mandar-te beijinhos!
"Com os filhos?"- pensou Sofia. Afinal ele tinha seguido com a sua vida e agora era um pai de família, tinha uma esposa, tinha filhos. Possivelmente estava uma pessoa diferente... diferente do rebelde e irresponsável Filipe que conhecera numa tarde quente de agosto do longínquo ano de 1999, na Costa da Caparica.
Terminaram a conversa e Sofia ficou a olhar para o telemóvel... Kiko acordou e saltou do sofá com a agilidade habitual dos felinos dirigindo-se para a cozinha, já sentia fome e hoje a dona não lhe estava a prestar atenção nenhuma.
A raiva que sentira há pouco mais de duas horas parecia acalmar, dando lugar a um sentimento que tinha aprendido a dominar... saudades.
Fechou os olhos, inspirou profundamente três vezes, recostou-se encolhida no sofá, adormecendo com lágrimas a rolarem nas suas faces.
E de repente, já estava sentada na sua toalha de praia da Coca-cola, biquíni preto reduzido demais para a época, pele húmida e salgada, observando divertida os amigos a jogarem uma partida de futebol no areal da praia, quando o rapaz mais giro que vira na vida passou à sua frente. E o momento estava congelado no tempo... o momento em que o surfista de cabelo oxigenado preso num rabo-de-cavalo despenteado e rebelde, olhos azuis e pele bronzeada cruzou o seu olhar com o dela...

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