19 de dezembro de 2016

Mais uma mensagem XII


O ambiente ficou carregado com energias muito negativas e a excitação que sentia há pouco tempo dava lugar a um sentimento de vazio e de desilusão. Sofia percebeu que Filipe mostrava agora muito bem aquilo que a amiga Carlota tinha dito sobre ele, era um homem que conquistava corações e depois destruía-os com muita facilidade. Estava a tentar fazer o mesmo com ela... mas ela não deixaria. Não pretendia dar o seu coração tão cedo.
- Filipe, porque foi então aquele intenso e sentido beijo? Não pensaste na tua namorada na altura ou só me beijaste porque achavas que eu não sabia de nada? Queres responder? - perguntou Sofia determinada a esclarecer o assunto.
- Olha Sofia, nem te sei explicar, mas devo dizer-te que amo a Patrícia e já temos tantos planos para o nosso futuro... Só que tu - voltou a olhar nos olhos de Sofia - só que tu tiraste-me o tapete. Tens algo em ti que me deixa com o coração a palpitar mais forte, não sei... és deslumbrante e tão sensual. - esboçou um sorriso sacana e carregado de uma sensualidade que não deixava Sofia indiferente.
- Não percebo Filipe... se calhar tens razão e ficávamos por aqui. Acabamos de almoçar e cada um segue a sua vida - disse Sofia com tristeza e pouco segura do que estava a dizer.
Entretanto são servidos pelo empregado que percebeu que o ambiente estava ligeiramente diferente entre os protagonistas da conversa.
- Bom apetite - disse Filipe piscando o olho a Sofia e voltando a sorrir.
Sofia nem sabia o que pensar... Ele só a queria como uma aventura, mas ela também não queria nenhuma relação sólida. Não queria manter compromissos sérios e ele continuava a provocar-lhe um formigueiro no estômago. Observou-o a cortar a pizza e a servi-la, a verter a sangria do jarro para os copos, a levar o copo à boca e ..., aquela boca que ainda há pouco tinha provado e aprovado, pelo sabor, pelo odor e pela mestria com que conduziu o beijo. Teve de voltar à realidade e acalmar a sua mente perversa e disponível e fingir que estava zangada, chateada, aborrecida... Começou a comer em silêncio e o mesmo só era interrompido pelos comentários abonatórios que Filipe ia fazendo à pizza. Estava a gostar!
Na mente de Sofia choviam ideias sobre como contornar a situação... Ela não iria admitir perante Filipe que não se importava nada com o facto de ele ter uma namorada, mas por outro lado não iria gostar de se sentir a outra, a amante, a segunda escolha... Ahhhhh...apetecia-lhe gritar. O que fazer? Continuavam a trocar olhares e sorrisos. Mas Sofia só pensava "Caraças, não foi isto que a minha mãe me ensinou... eu devia saltar fora já!"
- Filipe?? - disse Sofia num tom de voz quase inaudível - Eu não me importo... - Olhou-lhe no profundo azul dos olhos que pareciam não ter percebido onde ela queria chegar com aquela insinuação.
- Não te importas?? Não te importas com??? - Filipe, de faca e garfo nas mãos, olhar inquiridor e atónito, boca semi-aberta demonstrando espanto.
- Nada, nada... queria só dizer que... sei lá, para não ficares a pensar que estou chateada. - Sofia queria ter dito que não se importava de estar nos braços dele de vez em quando, Sofia queria ter dito que não se importava de ser a outra, mas não teve coragem.

Terminaram a refeição e voltaram para os carros. Combinaram que iam esquecer o que havia acontecido e deixar as coisas correrem ao sabor da maré. Nesse mesmo dia iriam à praia como estava combinado com a prima e o resto dos amigos e iriam tentar evitar-se... Sofia achou difícil mas prometeu cumprir.

Sofia entrou no carro do seu pai, fechou a porta e abriu o vidro. Filipe observava-a, através da lente escura dos óculos de sol, e adorava todos os seus gestos, deliciava-se com o ondular das madeixas de cabelo que tocavam os seios de Sofia que ele tanto ansiava tocar, sentir, apertar...
Sofia acabava de colocar o cinto de segurança quando foi surpreendida com um beijo de Filipe. Um simples beijo, seco, rápido, leve... mas carregado de significado... para ambos!
- És doido, és mesmo doido - disse-lhe ela, rindo às gargalhadas e pondo o carro a trabalhar. Sofia tinha agora a certeza absoluta que aquele surfista loiro de olhos azuis estava na "mesma onda" que ela...
- Tu é que me pões doido Sofia! Até logo - rematou ele a correr para a sua carrinha pão de forma, com uma ideia em mente...


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