27 de dezembro de 2016

Mais uma mensagem XV

Sofia chegou ao parque da Paz num instantinho, pois havia pouco trânsito, no entanto, foi difícil arranjar um lugar para estacionar o seu carro. O parque estava cheio de gente: famílias inteiras que aproveitavam o bom tempo para dar uma corridinha, andar de bicicleta ou simplesmente passear; grupos de jovens que jogavam à bola e ainda casais de namorados que deitados no relvado faziam juras de amor eterno e trocavam beijos apaixonados.
Sofia colocou os seus óculos de sol na cabeça, a servir de bandolete, apertou o fecho do seu casaco desportivo de penas até acima e ajeitou o cachecol de maneira a proteger o pescoço do frio que se fazia sentir. Era difícil sentir-se sensual ou atraente com toda aquela roupa e recordou com um brilho especial no olhar, o dia de verão em que conhecera Filipe. Ficou alerta procurando o surfista loiro de olhos azuis e duas crianças, que nem sabia como eram... seriam dois rapazes, um casalinho? Foi andando e apreciando o  calor do Sol daquele dia de inverno e dirigiu-se até ao grande lago que se encontra no meio do parque.
Ao longe pareceu-lhe ver uma silhueta familiar, mas apesar de se terem passado dez anos Sofia reconheceu-o. As diferenças centravam-se no cabelo... era agora bem curtinho. Filipe jogava à bola com duas crianças pequenas, não teriam mais de dez anos. Um menino e uma menina... os filhos dele!
Ficou emocionada e parou a observá-los ao longe. Como era possível que a vida tivesse dado tantas voltas e os filhos dele não fossem também dela? A culpa era em parte dela, mas sabia que o Filipe nunca tinha tomado a atitude que levaria a que pudessem sonhar num futuro a dois. Sofia tinha sido sempre a sua amante e nunca mais do que isso. E a relação acabara mesmo por isso... por Filipe nunca ter deixado a sua namorada surfista.
Resolveu ir ter com eles mas nem sabia como se dirigir a ele... Um simples "olá, tudo bem" um beijo ou um abraço carinhoso... E a esposa? Haveria uma mulher? Quem seria a mãe dos meninos?  Possivelmente seria a nazarena, mas por alguma razão não se encontrava com eles.
Filipe estava com a bola de futebol nas mãos quando a viu... Os seus olhares fixaram-se e logo as pernas de Sofia fraquejaram, o coração acelerou e as borboletas, lá no estômago, bateram as asas a um compasso digno de uma banda sonora de um qualquer filme romântico. Sofia queria parecer calma e serena mas os seus lábios secaram ao ponto de ter de passar a língua para os humedecer...
Ambos sorriram e, apesar de não saberem, o pensamento silencioso que lhes passou na mente foi o mesmo e gritava:"amo-a"... "amo-o"...
Filipe deixa cair a bola e, observado de perto pelos dois filhos dirige-se em passo apressado até Sofia:
- Sofia... minha querida... - ao proferir estas palavras aproxima-se e abraça-a. Um abraço apertado que matava as saudades sentidas por ambas as partes. Um abraço que esteve tantos anos à espera de ser libertado. Um abraço que fazia esquecer todo o tempo que estiveram separados.
Sofia deixa-se levar pelo abraço, retribuindo o calor e a paixão que sentiu... Peito com peito, braços e mãos nas costas um do outro... Filipe enterra a sua face no cabelo de Sofia inspirando o seu cheiro, querendo guardar aquele momento para sempre, querendo que de repente estivessem sozinhos no mundo, querendo que o tempo parasse para poder deliciar-se, lambuzar-se e voltarem a ser um só.
Sofia, de cara encostada ao peito do surfista ouve o seu coração apressado que parece querer fazer uma batalha com as suas borboletas, sente o corpo que tão bem conhecera e que parece nunca ter deixado de conhecer e suspira profundamente, sussurando, mas querendo gritar, "ohhh Filipe..."
- Quem é essa senhora pai? - chamados à realidade pelo filho mais novo de Filipe, afastam-se sorrindo e com os olhos brilhantes Filipe responde ao filho:
- Esta é a Sofia. Foi por esta senhora que o pai quis voltar a Lisboa. Já vos falei dela... lembras-te Miguel?- perguntou carinhosamente ao rapazinho enquanto lhe ajeitava o gorro na cabeça que teimava em sair.
- Olá Sofia... - disse a menina loirinha, aproximando-se dela de bracitos abertos pedindo um abraço...- Eu sou a Madalena e o papá disse que tu eras muito bonita e és mesmo!
Sofia sem saber o que pensar ou dizer, baixou-se e abraçou a Madalena agradecendo e dizendo-lhe que também ela era linda.
O momento estava pejado de emoção, de sentimentos puros mas Sofia tinha tantas questões... e a mãe? E porque tinha ele contado aos filhos sobre ela? E porque é que ela se sentia mais apaixonada que nunca?
- Olá Miguel! Posso dar-te um abracinho? - perguntou Sofia ao miúdo que logo acenou que sim com a cabeça. Durante o abraço Sofia olhou para Filipe e nem quis acreditar... O surfista durão de olhos azuis chorava ao ver aquela demonstração de carinho dos filhos para com Sofia.
- Ai Filipe... temos tanto para falar... Preciso perceber o que se passa aqui... - disse Sofia olhando para Filipe com um brilho  nos olhos, enquanto estendia as suas mãos aos dois pequenitos que rapidamente e com dois sorrisos, lindos e iguais ao do pai , se apressaram a agarrá-las, um de cada lado.
- Sim minha querida- disse Filipe enxugando as lágrimas e colocando um sorriso na cara - precisamos falar!

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